quinta-feira, 26 de julho de 2012

Meio ambiante - por que custo e não investimento


Por: Giuliana Capello
Fonte: planetasustentavel.abril.com.br/blog

Curioso observar a maneira como os temas socioambientais são tratados no Brasil. Há uma diferença grande no discurso de gestores públicos e empresários ao falar, por exemplo, sobre as dezenas de grandes obras que estão em pauta como parte dos eventos ligados à Copa e às Olimpíadas – sem esquecer que a mídia agora decidiu botar o Brasil na moda: o país das oportunidades (que, às vezes, parece mais o país dos oportunistas…). Somando-se aí as obras do PAC, as hidrelétricas sem cabimento, as obras faraônicas que ficam paradas e depois exigem mais e mais dinheiro para serem restabelecidas (exemplo disso é a polêmica transposição do rio São Francisco, que passou de estimados R$ 4 bilhões para mais de R$ 8 bilhões), temos aí o cenário de um Brasil que enxerga tudo como investimentos necessários, reflexo dos “bons ventos do progresso” que andam movimentando a economia do país. E ninguém reclama, porque ainda acredita ser este o caminho.
Agora, se o assunto diz respeito à construção de aterros sanitários, tão importantes para conter o crescimento da poluição de nossos rios e também do solo, além, é claro, da ligação profunda e já conhecida entre lixo e saúde pública,os tais investimentos saem de cena para dar lugar a uma expressão mais pejorativa, para dizer o mínimo: custos. É impressionante como quase tudo que tem a ver com a conservação de nossos bens naturais, de nossa biodiversidade, adquire o peso de serem gastos, ônus, verba que poderia ser empregada em outros setores (?!?!); nunca investimentos, nunca dinheiro bem investido. Pode uma coisa dessas?!
Ontem mesmo li uma reportagem que falava que o Brasil precisa construir 450 aterros para reduzir o problema dos resíduos despejados incorretamente na natureza (na prática: na beira de córregos, em lixões a céu aberto e por aí vai), a um custo de R$ 2 bilhões. Custo? Gente, isso seria fantástico e representaria um investimento de apenas R$ 2 bilhões. Ok, não é pouco dinheiro, sei disso, mas na comparação com o que tem sido (mal) feito com nossos impostos…
A população precisa começar a olhar isso com mais atenção, notar o quanto o discurso ambientalmente correto de algumas lideranças difere da prática, das ações que realmente chegam a sair do papel.
Se todos esses chamados investimentos necessários para fazer o Brasil crescer e oferecer mais e mais empregos à população (para que, como contrapartida, ela aumente seu poder de consumo e descubra necessidades antes inexistentes em suas vidas, objetos de desejo que viram mais valiosos que água), enfim, se esses gastos com obras de infraestrutura não se sustentam em bases e princípios sustentáveis, mas são apenas necessidades imediatistas para o país “fazer bonito lá fora” com uma imagem que vá além do carnaval, das belas praias e do futebol, lamento, mas o plano tem tudo para dar muito errado.
Em plena escalada de desafios socioambientais, em plena época de combate ao aquecimento global e às mudanças do clima, o Brasil se faz de míope para questões como fomento às energias renováveis (ainda precisamos excluir as hidrelétricas dessa lista, se quisermos avançar nisso com consciência),incentivo às práticas mais sustentáveis, planos de mobilidade urbana que coloquem as pessoas em primeiro lugar (e não os carros e suas montadoras)e outros tantos temas mais do que relevantes, cruciais.
Enquanto despoluir rios, investir em produção orgânica de alimentos, construir estações de tratamento de esgoto, aumentar as possibilidades de deslocamentos nas cidades com transporte público e exigir estudos de impacto socioambiental para obras que nem o mais genial dos cientistas conseguiria prever com baixas margens de erro, enquanto tudo isso for absolutamente e tão somente custos para o país – socorro, barco à deriva! – os brasileiros ainda estarão caminhando numa direção que nada, repito, nada tem de sustentável. Sejamos minimamente coerentes, sem pose de bons mocinhos ou hipocrisia. Isso cansa e enraivece até devotos da Madre Teresa…
Sabe, é engraçado como fazemos jeitinho de gente boa por aí. Uma pesquisa feita por uma construtora paulista mostrou que seus clientes estão sensibilizados pelas questões ambientais, acham realmente importante pensar em aumentar nosso nível de sustentabilidade e tal. Mas quando o assunto é botar a mão no bolso ou mudar algum comportamento para ajudar isso a acontecer, a boa vontade para por aí. Ninguém quer pagar a conta, mas também ninguém percebe que as escolhas nossas de cada dia só fazem aumentar a conta ambiental que, uma hora ou outra (a partir de hoje, de agora mesmo) cairá repentinamente sobre nossas cabeças.
Separei para você assistir uma animação que fala do Homo consumus, uma espécie que habita o planeta Terra e não tem a menor consciência do quanto suas ações estão destruindo sua própria casa. Um marciano com cara de monstrinho está analisando a espécie e propõe uma saída: a evolução do Homo consumus para o Homo responsabilus… Quem sabe um dia… quem sabe… Vale a pena assistir e refletir.

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