Por: Giuliana Capello
Fonte:
planetasustentavel.abril.com.br/blog
Curioso observar a maneira como
os temas socioambientais são tratados no Brasil. Há uma diferença grande no
discurso de gestores públicos e empresários ao falar, por exemplo, sobre as
dezenas de grandes obras que estão em pauta como parte dos eventos ligados à Copa
e às Olimpíadas – sem esquecer que a mídia agora decidiu botar o Brasil na
moda: o país das oportunidades (que, às vezes, parece mais o país dos
oportunistas…). Somando-se aí as obras do PAC, as hidrelétricas sem cabimento,
as obras faraônicas que ficam paradas e depois exigem mais e mais dinheiro para
serem restabelecidas (exemplo disso é a polêmica transposição do rio São
Francisco, que passou de estimados R$ 4 bilhões para mais de R$ 8 bilhões),
temos aí o cenário de um Brasil que enxerga tudo como investimentos
necessários, reflexo dos “bons ventos do progresso” que andam movimentando a economia do
país. E ninguém reclama, porque ainda acredita ser este o caminho.
Agora, se o assunto diz respeito
à construção de aterros sanitários, tão importantes para conter o crescimento
da poluição de nossos rios e também do solo, além, é claro, da ligação profunda
e já conhecida entre lixo e saúde pública,os tais investimentos saem de cena para dar lugar a uma expressão
mais pejorativa, para dizer o mínimo: custos. É impressionante como quase
tudo que tem a ver com a conservação de nossos bens naturais, de nossa
biodiversidade, adquire o peso de serem gastos, ônus, verba que poderia ser
empregada em outros setores (?!?!); nunca investimentos, nunca dinheiro bem investido.
Pode uma coisa dessas?!
Ontem
mesmo li uma reportagem que falava que o Brasil precisa construir 450 aterros
para reduzir o problema dos resíduos despejados incorretamente na natureza (na
prática: na beira de córregos, em lixões a céu aberto e por aí vai), a um custo
de R$ 2 bilhões. Custo? Gente, isso seria fantástico e representaria um
investimento de apenas R$ 2 bilhões. Ok, não é pouco dinheiro, sei disso, mas
na comparação com o que tem sido (mal) feito com nossos impostos…
A população precisa começar a
olhar isso com mais atenção, notar o quanto o discurso ambientalmente
correto de algumas lideranças difere da prática, das ações que realmente chegam
a sair do papel.
Se todos esses chamados investimentos necessários para fazer o Brasil crescer e oferecer mais e mais empregos à população (para que, como contrapartida, ela aumente seu poder de consumo e descubra necessidades antes inexistentes em suas vidas, objetos de desejo que viram mais valiosos que água), enfim, se esses gastos com obras de infraestrutura não se sustentam em bases e princípios sustentáveis, mas são apenas necessidades imediatistas para o país “fazer bonito lá fora” com uma imagem que vá além do carnaval, das belas praias e do futebol, lamento, mas o plano tem tudo para dar muito errado.
Se todos esses chamados investimentos necessários para fazer o Brasil crescer e oferecer mais e mais empregos à população (para que, como contrapartida, ela aumente seu poder de consumo e descubra necessidades antes inexistentes em suas vidas, objetos de desejo que viram mais valiosos que água), enfim, se esses gastos com obras de infraestrutura não se sustentam em bases e princípios sustentáveis, mas são apenas necessidades imediatistas para o país “fazer bonito lá fora” com uma imagem que vá além do carnaval, das belas praias e do futebol, lamento, mas o plano tem tudo para dar muito errado.
Em plena escalada de desafios
socioambientais, em plena época de combate ao aquecimento global e às mudanças
do clima, o Brasil se faz de míope para
questões como fomento às energias renováveis (ainda precisamos excluir as
hidrelétricas dessa lista, se quisermos avançar nisso com consciência),incentivo às práticas mais
sustentáveis, planos de mobilidade urbana que coloquem as pessoas em primeiro
lugar (e não os
carros e suas montadoras)e
outros tantos temas mais do que relevantes, cruciais.
Enquanto despoluir rios, investir
em produção orgânica de alimentos, construir estações de tratamento de esgoto,
aumentar as possibilidades de deslocamentos nas cidades com transporte público
e exigir estudos de impacto socioambiental para obras que nem o mais genial dos
cientistas conseguiria prever com baixas margens de erro, enquanto tudo isso
for absolutamente e tão somente custos para o país – socorro, barco à deriva! –
os brasileiros ainda estarão caminhando numa direção que nada, repito, nada tem
de sustentável. Sejamos minimamente coerentes,
sem pose de bons mocinhos ou hipocrisia. Isso cansa e enraivece
até devotos da Madre Teresa…
Sabe,
é engraçado como fazemos jeitinho de gente boa por aí. Uma pesquisa feita por
uma construtora paulista mostrou que seus clientes estão sensibilizados pelas
questões ambientais, acham realmente importante pensar em aumentar nosso nível
de sustentabilidade e tal. Mas quando o assunto é botar a mão no bolso ou mudar
algum comportamento para ajudar isso a acontecer, a boa vontade para por aí.
Ninguém quer pagar a conta, mas também ninguém percebe que as escolhas nossas
de cada dia só fazem aumentar a conta ambiental que, uma hora ou outra (a
partir de hoje, de agora mesmo) cairá repentinamente sobre nossas cabeças.
Separei para você assistir uma
animação que fala do Homo consumus, uma
espécie que habita o planeta Terra e não tem a menor consciência do quanto suas
ações estão destruindo sua própria casa. Um marciano com cara de monstrinho
está analisando a espécie e propõe uma saída: a evolução do Homo
consumus para o Homo
responsabilus… Quem sabe um dia… quem sabe… Vale a pena
assistir e refletir.
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