No lugar de páginas, órgãos
humanos; em vez de fotos, brinquedos – ou até mesmo armas de fogo. As
impressoras 3D permitem que qualquer pessoa – com um pouco de prática –
reproduza o que imaginar, quando quiser. Antes de difícil acesso ao usuário
doméstico, essa tecnologia foi simplificada, ficou mais barata e conquista
novos adeptos diariamente; o processo, ainda que recente, está se
popularizando, e deve revolucionar o sistema de produção industrial em favor da
fabricação caseira, descentralizada. Transformar desenhos virtuais em objetos
físicos está ao alcance de todos.
Assim
como impressoras tradicionais, esses equipamentos materializam arquivos de
computador através de um comando do usuário. A diferença está no resultado –
produtos reais, tangíveis, tridimensionais; peças construídas em casas ou
pequenos escritórios com eficiência, a partir de modelos digitais. Projetos
antes somente possíveis na imaginação ou realizados apenas em ambiente virtual
– portanto, próximos da ficção científica – começam a surgir de forma prática e
até econômica: uma tendência que deve aumentar nos próximos anos.
Impressoras
3D não são novidade: máquinas assim têm sido utilizadas para fazer protótipos
de engenharia há mais de 25 anos. Desde 2007, porém, com o fim de algumas
patentes que impediam sua disseminação, a tecnologia ficou mais acessível e vem
sendo aplicada por consumidores e pequenas empresas – inicialmente para consumo
próprio e produção em baixa escala – em diversos países, inclusive no Brasil.
Em geral, os produtos são fabricados em plástico, mas a evolução no processo já
permite a criação de itens com metais, madeira, borracha, cerâmica, vidro e até
açúcar. Em breve, a variedade de materiais disponíveis deve aumentar, assim
como a qualidade dos itens produzidos.
“Com uma máquina dessas, você
pode ter uma fábrica dentro de casa”, afirmou ao Terra Rodrigo Rodrigues da Silva, um dos
fundadores da Metamáquina - ao lado de Felipe Sanches e
Filipe Moura. A empresa, com sede em São Paulo, começou como uma startup dos
então estudantes de engenharia, nasceu a partir de financiamento colaborativo e
hoje está com excesso de demanda e estoques esgotados. “Estamos recebendo
muitos pedidos: é quase um interessado por dia”, comemora Rodrigo. Seus
principais clientes são pessoas físicas e pequenas empresas: público diferente
daquele que procurava a tecnologia em seus primeiros anos – o que altera toda a
lógica empresarial do setor.
Com a
mudança de foco da indústria para o consumidor, os fabricantes de impressoras
3D foram recompensados com aumento nas vendas – e garantem aos clientes a
perspectiva de revendas lucrativas. Aparelhos capazes de produzir itens simples
– como chaveiros, porta-garrafas e peças de jogos de tabuleiro perdidas – são
comercializados a preços cada vez mais acessíveis. Sua crescente popularidade
se reflete na economia: as ações de empresas que negociam nas bolsas de
valores, como as americanas Stratasys Inc e Rock Hill, duas das maiores companhias
do mundo nesse segmento, mais que dobraram desde o início do ano.
Não apenas as grandes empresas
do ramo estão obtendo sucesso. A impressão em três dimensões abre oportunidades
para inventores e empresários criarem seus pequenos negócios – ou apenas manter
um ritmo de produção caseiro, sem pretensões industriais. A possibilidade de
materializar ideias mobiliza entusiastas que, com frequência, não se limitam a
criar objetos para consumo pessoal e acabam se tornando microempresários,
produzindo e revendendo as partes que fabricam. Sinal de um mercado atraente e
em constante expansão.
Ao
reduzir as barreiras à entrada da concorrência, a impressão 3D promove a
inovação ao mesmo tempo em que atrai consumidores. Cada comprador se torna um
fabricante em potencial, e a comunidade envolvida com essa tecnologia é
engajada: proprietários costumam compartilhar suas realizações e incentivar
outros a obterem o melhor desempenho possível de suas máquinas, assim
alimentando ideias e contribuindo para a evolução dos produtos. Em números,
essa expansão é animadora para o mercado: pesquisa divulgada neste semestre
pela Global Industry Analysts projeta ganhos de US$ 2,99 bilhões até 2018,
tornando a indústria da impressão 3D uma das mais lucrativas nos Estados Unidos
nos próximos anos.
“Daqui a 10, 15 anos, toda casa
poderá ter uma impressora 3D”, acredita Rodrigo Krug, fundador da Cliever, empresa fundada no ano passado em
Porto Alegre (veja a Cliever CL-1 em funcionamento no vídeo acima). Em
entrevista ao Terra, ele
contou que “não imaginava” a demanda que tem recebido. O estoque que tinha
também foi esgotado em poucos meses. “Subestimamos o mercado. A procura tem
sido muito maior do que esperávamos e a situação está muito boa: temos
encomendas até o final do ano”, afirma Krug, reproduzindo mais uma história de
sucesso das – por enquanto, pequenas – empresas de impressoras 3D.
A
expectativa é que a impressão 3D de baixo custo evolua a ponto de itens
produzidos em casa rivalizarem com objetos simples que se costuma comprar.
Atualmente, máquinas como o Replicator 2, da MakerBot (lançado em setembro e
comercializado a cerca de US$ 2 mil), levam algumas horas para imprimir
produtos mais complexos; mas e quando esse tempo for reduzido para apenas
alguns minutos, e a qualidade aumentar consideravelmente? Tudo indica que esse
futuro está bastante próximo. Empresas que trabalham com impressão 3D doméstica
têm enfrentado problemas com a demanda – muito alta – e cada nova geração
desses equipamentos torna seu uso mais fácil e produz resultados melhores, a
preços cada vez mais baixos.
A
qualidade dos produtos impressos melhora rapidamente, o tamanho dos objetos
fabricados em casa está aumentando, o número de empresas trabalhando com
impressão 3D cresce a cada dia e o manuseio fica mais e mais simplificado.
“Estamos trabalhando muito para tornar a tecnologia cada vez mais acessível a
pessoas não ligadas às áreas técnicas, facilitando-a ao máximo”, afirma Rodrigo
Krug, da Cliever, que pretende lançar até o final do ano um equipamento de
simples operação, capaz de imprimir objetos com apenas um clique. O futuro está
logo alí!
Arquitetos
e Engenheiros que se preparem, as antigas maquetes feitas na mão não serão mais
necessárias!