Por: Giuliana Capello
Fonte:
planetasustentavel.abril.com.br
Você alguma vez já se perguntou
quanto vale uma árvore? Ou já se viu encantado por um exemplar específico que,
de algum jeito, tocou seu coração pela beleza, pela grandeza, pela cor de suas
flores ou pela resistência às chuvas e ao frio intenso? Várias vezes, quando
estou na ecovila ou mesmo na cidade,observo
as árvores em busca de histórias que elas possam me contar. Bem perto
da minha casa, no alto do morro, tem uma araucária belíssima, frondosa, que deve ter uns
50 ou 60 anos, talvez. De braços abertos, é ela quem me recebe na varanda
quando chego para me deliciar com o horizonte, sempre em metamorfoses. Sinto
uma força interna extra quando olho para aquele ser imponente, que parece
abraçar todo o vale. Era assim também com a amoreiraem
frente à minha antiga casa em São Paulo. Era ela quem anunciava
a mudança das estações, com suas folhas cobrindo o chão de
cores, ou seus frutos maduros à espera da colheita se bem que, verdade seja
dita, nos últimos tempos ela parecia meio perdida, fora do tempo, talvez por
conta das alterações que causamos no clima…
Durante toda a minha vida, sempre
cultivei amizades especiais com árvores. Lembro-me da jovem tipuana que ficava na calçada da casa da minha
infância. Ela foi cenário e parte importante de muitas brincadeiras minhas e da
minha irmã, e até do nosso gatinho Dudu, que tinha um dom especial de subir em
segundos até o último galho e descer sozinho, ufa!, muito tempo depois.
Tínhamos o hábito de sentar debaixo dela para jogar dominó, bater papo, tomar
sorvete ou simplesmente receber por alguns minutos alguém que chegava dizendo
não ter tempo nem para um cafezinho.
Mesmo no interior, no entanto, há
quem se incomode com as árvores. Já vi muita gente pedir à prefeitura a poda da
árvore, porque ela sujava o quintal ou a calçada. Poucos são aqueles e
sempre vistos como saudosistas que enaltecem a árvore como um patrimônio a ser preservado e respeitado. Parece
incrível que, mesmo com tantas campanhas e obviedades explícitas, ainda exista
quem não repare ou faça questão das frondosas e generosas árvores.
Aqui
em Piracaia, SP, o projeto de reforma da praça do Rosário, uma das principais
da cidade, parece não ter levado em conta as árvores centenárias que tornam o
lugar agradável e aconchegante. Por alguma razão que não tem razão alguma, além
do antigo coreto que foi demolido, o projeto prevê o corte de sete grandes
árvores. Não é maluco que a reforma de uma praça implique a eliminação de
árvores? O que é uma praça sem suas árvores?!? Tudo bem que o lugar é palco
frequente de festas populares, como as festas juninas e as quermesses do
feriado de Corpus Christi. Mas, suprimir árvores para instalar quiosques ou
aumentar a área impermeável, definitivamente, não me parece nada plausível.
É aí que entra uma nova moda, que
ultimamente tenho visto com olhos bastante desconfiados: a tal da (badalada) compensação.
Agora, toda ação humana que incorre em crime ambiental parece passível de
compensação. Basta plantar umas árvores em qualquer canto para que todos pensem
que está tudo certo. É estranho porque, muitas vezes, a
ideia de compensar vem antes do princípio de se evitar o estrago.
Como no caso da praça, será que o projeto não poderia considerar as árvores e
transformá-las, quiçá, em protagonistas ao contrário de serem encaradas como
obstáculos a serem transpostos?
Tirar daqui e colocar ali, quando
se fala em natureza, não é tão simples como contar dois mais dois ou cantarolar Escravos
de Jó. Ainda que a prefeitura divulgue que irá plantar 100
árvores para cada exemplar suprimido da praça, ficam as perguntas: onde ela irá
plantar? Quem irá cuidar dessas mudas? Quanto tempo levará para que essas
árvores atinjam a maturidade daquelas que foram cortadas? Vale a pena? Por quê?
Para quê? Há quem se impressione com os números e até ache que a prefeitura
está agindo como um fervoroso ambientalista, ao multiplicar por cem o número de
árvores existentes hoje. Na prática, o que ficará, no entanto, será uma praça
com menos passarinhos, mais cimento e um saque na verba municipal suficiente para
construir uma nova escola ou até duas, que poderiam, com sorte, ensinar aos
mais novos lições realmente importantes.
(Feito o desabafo) Deixo para os
amantes das copas bojudas, um trecho da música Paineira
Velha, da dupla Tonico e Tinoco…
Paineira velha abandonada
Lá na estrada de meu sertão
Tens uma história de meu passado
Que está guardada no coração
(…) Paineira velha fiel amiga
Nossos destinos são sempre iguais
Se estou contente você florece
Quando eu padeço suas flores caem
Nascemos juntos, paineira velha
Vamos morrer nesta união"