segunda-feira, 30 de julho de 2012

O valor de uma árvore


Por: Giuliana Capello
Fonte: planetasustentavel.abril.com.br
Você alguma vez já se perguntou quanto vale uma árvore? Ou já se viu encantado por um exemplar específico que, de algum jeito, tocou seu coração pela beleza, pela grandeza, pela cor de suas flores ou pela resistência às chuvas e ao frio intenso? Várias vezes, quando estou na ecovila ou mesmo na cidade,observo as árvores em busca de histórias que elas possam me contar. Bem perto da minha casa, no alto do morro, tem uma araucária belíssima, frondosa, que deve ter uns 50 ou 60 anos, talvez. De braços abertos, é ela quem me recebe na varanda quando chego para me deliciar com o horizonte, sempre em metamorfoses. Sinto uma força interna extra quando olho para aquele ser imponente, que parece abraçar todo o vale. Era assim também com a amoreiraem frente à minha antiga casa em São Paulo. Era ela quem anunciava a mudança das estações, com suas folhas cobrindo o chão de cores, ou seus frutos maduros à espera da colheita – se bem que, verdade seja dita, nos últimos tempos ela parecia meio perdida, fora do tempo, talvez por conta das alterações que causamos no clima…
Durante toda a minha vida, sempre cultivei amizades especiais com árvores. Lembro-me da jovem tipuana que ficava na calçada da casa da minha infância. Ela foi cenário e parte importante de muitas brincadeiras minhas e da minha irmã, e até do nosso gatinho Dudu, que tinha um dom especial de subir em segundos até o último galho – e descer sozinho, ufa!, muito tempo depois. Tínhamos o hábito de sentar debaixo dela para jogar dominó, bater papo, tomar sorvete ou simplesmente receber por alguns minutos alguém que chegava dizendo não ter tempo nem para um cafezinho.
Mesmo no interior, no entanto, há quem se incomode com as árvores. Já vi muita gente pedir à prefeitura a poda da árvore, porque ela “sujava” o quintal ou a calçada. Poucos são aqueles – e sempre vistos como saudosistas – que enaltecem a árvore como um patrimônio a ser preservado e respeitado. Parece incrível que, mesmo com tantas campanhas e obviedades explícitas, ainda exista quem não repare ou faça questão das frondosas e generosas árvores.
Aqui em Piracaia, SP, o projeto de reforma da praça do Rosário, uma das principais da cidade, parece não ter levado em conta as árvores centenárias que tornam o lugar agradável e aconchegante. Por alguma razão que não tem razão alguma, além do antigo coreto que foi demolido, o projeto prevê o corte de sete grandes árvores. Não é maluco que a reforma de uma praça implique a eliminação de árvores? O que é uma praça sem suas árvores?!? Tudo bem que o lugar é palco frequente de festas populares, como as festas juninas e as quermesses do feriado de Corpus Christi. Mas, suprimir árvores para instalar quiosques ou aumentar a área impermeável, definitivamente, não me parece nada plausível.
É aí que entra uma nova moda, que ultimamente tenho visto com olhos bastante desconfiados: a tal da (badalada) compensação. Agora, toda ação humana que incorre em crime ambiental parece passível de compensação. Basta plantar umas árvores em qualquer canto para que todos pensem que está tudo certo. É estranho porque, muitas vezes, a ideia de compensar vem antes do princípio de se evitar o estrago. Como no caso da praça, será que o projeto não poderia considerar as árvores e transformá-las, quiçá, em protagonistas – ao contrário de serem encaradas como obstáculos a serem transpostos?
Tirar daqui e colocar ali, quando se fala em natureza, não é tão simples como contar dois mais dois ou cantarolar Escravos de Jó.  Ainda que a prefeitura divulgue que irá plantar 100 árvores para cada exemplar suprimido da praça, ficam as perguntas: onde ela irá plantar? Quem irá cuidar dessas mudas? Quanto tempo levará para que essas árvores atinjam a maturidade daquelas que foram cortadas? Vale a pena? Por quê? Para quê? Há quem se impressione com os números e até ache que a prefeitura está agindo como um fervoroso ambientalista, ao multiplicar por cem o número de árvores existentes hoje. Na prática, o que ficará, no entanto, será uma praça com menos passarinhos, mais cimento e um saque na verba municipal suficiente para construir uma nova escola – ou até duas, que poderiam, com sorte, ensinar aos mais novos lições realmente importantes.
(Feito o desabafo) Deixo para os amantes das copas bojudas, um trecho da música Paineira Velha, da dupla Tonico e Tinoco…
“Paineira velha abandonada
Lá na estrada de meu sertão
Tens uma história de meu passado
Que está guardada no coração
(…) Paineira velha fiel amiga
Nossos destinos são sempre iguais
Se estou contente você florece
Quando eu padeço suas flores caem
Nascemos juntos, paineira velha
Vamos morrer nesta união"

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