segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Andrea Palladio


As primeiras atividades do jovem Andrea di Pietro dalla Gôndola em direção à sua formação, se realizam ainda em Padova, cidade de seu nascimento. Aos treze anos de idade, vai trabalhar junto a oficina de Bartolomeo Cavazza da Sossano um canteiro padovano, confeccionando elementos arquitetônicos de decoração. Oficina onde permanece por aproximadamente três anos quando em 1524 rompe seu contrato, foge e vai para a cidade de Vicenza onde procura se estabelecer. Começa a trabalhar como aprendiz e depois passa a assistente de Giovanno da Pedemuro e Girolamo Pittoni. Escultores de muito prestígio na época e responsáveis por grande parte dos monumentos sepulcrais e decorações escultóricas realizadas naquele período na cidade de Vicenza. Palladio permanece alí durante quatorze anos.
Já com trinta anos, em 1538 é convidado a trabalhar no canteiro de uma vila situada na periferia da cidade. Durante as obras dessa vila em Cricoli, seu proprietário Giangiorgio Trissino (1478-1550) apaixonado pelo trabalho de arquitetura, acompanha de perto os trabalhos realizados em seu canteiro, ocasião em que fica conhecendo Andrea. Giangiorgio Trissino escrevia obras teatrais e de poesia, era estudioso de filologia, humanista e à época um dos mais ilustres intelectuais vicentinos, interessado em literatura tanto quanto em teoria da arquitetura. Responsabilizava-se pela educação de um grupo de jovens aristocráticos no interior do qual procura acolher também Andrea. Será ele próprio a escolher o sobrenome de Palladio6 e a orientá-lo em sua formação cultural calcada sobretudo no estudo dos clássicos.
Outras figuras também exerceriam bastante influência sobre a formação de Palladio como Alvise Cornaro7 e o pintor veronese Falconetto8 . Cornaro, com a colaboração de Falconetto, projeta e constrói, no pátio-jardim de seu palácio uma loggia datada de 1524 e em 1530, um Odeon para concertos musicais. Estes projetos além de impressionar Palladio, representam as primeiras tentativas para estabelecer na região do Vêneto, algumas conexões com a Renascença romana. Alvise Cornaro era um empreendedor agrícola reconhecido em Padova, mecenas generoso e homem "que preferia a ação antes que a meditação"9 . Elabora um breve tratado de arquitetura voltado basicamente para questões de ordem prática, contrapondo-se a Vitrúvio e aos teóricos humanistas que considerava de pouca utilidade para quem quer construir casas cômodas, salubres e econômicas.10 Mas, Palladio tem uma atenção especial a Cornaro e a suas idéias, é ele o único entre os teóricos do renascimento, que propunha que os clientes fossem mais conscenciosos e fizessem menos questão das ordens clássicas e da ornamentação tradicional no projeto da fachada. Solução inteiramente assumida nos trabalhos de Andrea Palladio.
Outro arquiteto de grande influência para Palladio é Sebastiano Serlio11 , que durante sua estadia de aproximadamente três anos em Veneza (1527-1530), estará produzindo os primeiros dois livros (o quarto e o terceiro) dos sete que formariam o seu tratado de arquitetura. Sua influência é exercida de maneira acentuada através de seus livros, os primeiros livros estampados onde o meio principal utilizado para a transmissão de informação e da cultura artística é a imagem e não a palavra. Devemos lembrar que os tratados e suas transcrições, da tradição Vitruviana a Alberti eram privados de imagens. Essas ilustrações que Palladio observa no tratado de Serlio devem então ter provocado sua curiosidade para conhecer o esplendor de Roma.
Sua formação cultural e seu aprendizado ocorrem também, a partir de um contato direto com a arquitetura clássica e contemporânea de Roma e também com o estudo detalhado que realiza sobre o tratado de Vitrúvio. Para tanto Palladio segue, como vimos, os ensinamentos e a orientação de Giangiorgio Trissino, que no ano de 1541 estaria acompanhando-o em sua primeira viagem a Roma. Posteriormente em 1547 e 1554 estará realizando duas outras viagens a Roma e também através de várias cidades da Itália.
Durante suas viagens de estudo, Palladio desenhava e tomava medidas dos edifícios, fazia croquis em sua maioria utilizando-se de projeções ortogonais, com as quais procurava resgatar com precisão a forma arquitetônica. Esse processo de estudo e conhecimento se destaca como um momento de fundamental importância para a sua formação. Ao investigar a arquitetura de Roma, Palladio não está buscando exemplos, mas interlocutores, para o diálogo que constantemente irá estabelecer entre a sua arquitetura e aquela analisada, entre a teoria (idéia) e a sua prática.
São diversas e variadas as obras de arquitetura realizadas por Palladio ao longo de aproximadamente quarenta anos, por um lado colocando-se diante de problemas únicos como a Loggia da Basílica de Vicenza, o teatro Olímpico, o palazzo Chiericati ou mesmo as duas igrejas e a ponte do Rialto em Veneza. Por outro lado, trabalhando sobre uma similar requisição, desenvolvendo um grande número de projetos para residencias, sejam elas na cidade ou no campo. A cada novo projeto Palladio recupera aspectos do anterior, elaborando novas relações e estabelecendo no interior de sua obra um constante processo de comunicação entre as partes. É esse processo que vai caracterizar seu procedimento projetual, tornando-se não uma fórmula sistematicamente repetida, mas uma estratégia adotada de maneira consciente na busca de seu desenvolvimento. É, por um lado, no interior de cada projeto que esse processo vai acontecer, e, por outro lado, no conjunto de seus projetos, no todo de sua obra, que Palladio vai estabelecer um outro nível projetual. Palladio desenvolve de fato um meta-projeto a partir do redesenho de suas próprias vilas fazendo assim sua produção se tornar mais atualizada. Produção que se completa e recebe uma forma final não arquitetônica mas literária (ou teórica) com seu tratado: I Quattro Libri dell'architettura (Veneza, 1570), um dos mais importantes tratados arquitetônicos de seu tempo cuja ressonância chega até os dias de hoje.
 
  

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