quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Trabalho com o cimento – Segurança no trabalho

by EDUARDO CAVALCANTI

O cimento é classificado como uma poeira inerte. Porém, nem sempre isso é verdadeiro para alguns tipos com alcalinidade aumentada (pH acima de 10), capaz de causar desidratação da pele dado o caráter hidrofílico de seus compostos alcalino-terrosos.
As propriedades higroscópicas do cimento e a presença de compostos complexos de metais, são os responsáveis pelas manifestações de sensibilidade sobre a pele de alguns trabalhadores – reações de caráter imunológico e não como um irritante primário como alguns querem fazer crer. Também pode haver um mecanismo físico de micro traumas atribuído ao atrito do material particulado que é próprio do cimento.
A ação do cimento é resultante da alcalinidade de silicatos, aluminatos e sílico- aluminatos que o constitui. Essa alcalinidade que não chega a ser agressiva é que propicia sinergicamente, as condições para instalação de um processo de sensibilidade ou seja uma condição alérgica.
É bom frisar que esta alcalinidade não é devida aos alcalis cáusticos, propiciadores de insalubridade e representado pelos hidróxidos de cálcio e potássio que não estão presentes no cimento. Os alcalino-terrosos, esses sim presentes no cimento e dos quais decorre sua alcalinidade média ou fraca, em função de seu grau de ionização, não estão contemplados como insalubres nas normas legais (NR-15 anexo 13).
Quando o cimento com pouco teor de umidade entra em contato com a pele de portadores de sensibilidade e não é logo removido, absorve umidade e após algum tempo torna a pele seca, enrijecida e espessa. Somente a habitualidade deste contato torna a pele frágil resultando em fissuras e rachaduras denominadas de “lesões indolentes”, nas quais podem ocorrer infeções secundárias.
contato do cimento com as unhas faz as mesmas ficarem mais secas e quebradiças, o que também ocorre com a maioria das substâncias químicas usuais no trabalho e no lar. Também pode provocar sensibilidade na conjuntiva ocular e pequenas manifestações na mucosa nasal e oral quando o trabalhador não recebe ou não quer usar proteção adequada. Entre trabalhadores com muita sudorese o cimento geralmente causa uma reação alérgica mais intensa, principalmente na parte mais exposta do corpo. Acontece mais no verão que no frio e é necessário distingui-la da chamada “sarna dos pedreiros” muito comum em acampamentos de obras e que pode estar associada a presença de ácaros comuns nessa época e nesses locais, por falta de manutenção sanitária por parte de empreiteiras.
O cimento úmido pode dar o mesmo tipo de manifestação.
Trabalhos mais antigos sempre fazem referência a possibilidade da dermatite ser devida a uma sensibilidade adquirida aos compostos de cromo, que faziam parte da liga das bolas de metal dos moinhos de trituração dos componentes do cimento. Estudos feitos em alguns países, mostraram que é improvável que a incidência de dermatoses seja devida ao conteúdo de cromo já que sua presença é irrisória. Pôr isso é aconselhável que em solicitações de insalubridade pela presença de cromo no cimento, seja solicitada sua dosagem. Em muitas das amostras que tenho mandado pesquisar não se comprovou a presença de cromo nos cimentos brasileiros em análise.
Além de fatores individuais constitucionais, próprios da pessoa, que concorrem para as manifestações alérgicas produzidas pelo cimento outros fatores coadjuvantes podem estar associados ou relacionados:
  • a) com o ambiente, p/ex.: frio, calor, umidade, insolação etc.
  • b)com o cimento, p/ex.: microtraumatismos, imunogenia, higroscópia etc.
  • c) com hábitos pessoais p/ex.: uso inadequado do EPI, higiene pessoal deficiente.
Usar roupa molhada ou colocar a boca da calça dentro do cano da bota.
As máquinas modernas enclausuradas e os atuais métodos de trabalho usados na construção civil, juntamente com sistemas de ventilação local exaustora, tem funcionado como barreira na prevenção de dermatoses.
Banhos obrigatórios após o trabalho e troca diária de roupa limpa para o trabalho, por conta da empresa, reduzem grandemente o número de casos de dermatoses. Aqueles trabalhadores eventualmente sujeitos a secura e fissuras da pele devem usar luvas e roupas adequadas até melhorarem. É aconselhável colocar lanolina na pele, antes de calçar luvas, após descalçar luvas e antes de deitar para dormir, também serve usar um creme hidratante.
Aqueles que desenvolvem sensibilidade devem ser afastados do trabalho e tratados imediatamente. Aqueles que se mostrarem resistentes devem ser recolocados em outro tipo de atividade.

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