quinta-feira, 5 de julho de 2012

A redescoberta do bambú



Há milênios, ele dá forma a casas tradicionais no Japão e na China. Nos últimos anos, pesquisas avalizaram a resistência e durabilidade das varas na construção, enquanto sua versão laminada aparece em pisos e móveis



*Revistas Casa Claudia e Arquitetura e Construção 
Vários autores*
Especial Casa Sustentável* – 08/2009


A necessidade de repensar o consumo de materiais na construção e na decoração para torná-las mais sustentáveis atrai olhares para novas alternativas. É o caso do bambu, visto como a promessa para este século. Pesquisador desse recurso há mais de 30 anos, o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-RJ, não tem dúvidas sobre seu potencial. "Estudei 14 espécies e três delas, em especial, têm mais de 10 cm de diâmetro e são excelentes para a construção", diz ele, referindo-se ao guadua (Guadua angustifolia), ao bambu-gigante (Dendrocalamus giganteus) e ao bambu-mossô (Phyllostchys pubescens). 

Todos estão presentes no Brasil, onde existem grandes florestas inexploradas. No Acre, por exemplo, os bambuzais cobrem 38% do estado. De crescimento rápido (em três anos, está pronta para o corte), essa gramínea chama a atenção, a princípio, pela beleza. Mas a resistência também surpreende: de frágil, ela não tem nada. "Sua compressão, flexão e tração já foram amplamente testadas e aprovadas em laboratório", afirma Marco Antonio Pereira, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp, em Bauru, SP. 

Vários arquitetos estrangeiros têm apostado no bambu em projetos públicos. Na Espanha, o Aeroporto Internacional de Barajas, do britânico Richard Rogers, surpreende os usuários com seu forro, que suaviza a aparência da estrutura de concreto e aço. Em locais como esse, de uso intenso, a opção pelo material atesta a confiança na sua durabilidade e resistência, já que manutenções frequentes não seriam bem-vindas. "Se tratado adequadamente, o bambu apresenta durabilidade superior a 25 anos, equivalente à do eucalipto", afirma o arquiteto Edoardo Aranha, de São Paulo. Ele se refere aos tratamentos químicos para retirar o amido e prevenir o ataque de pragas como brocas e carunchos. 
Além do autoclave, outro procedimento comum chama-se boucherie, que substitui a seiva por um composto de cloro, bromo e boro. Submergir as varas em água durante 20 dias também produz bons resultados, segundo Edoardo. No Brasil, a carioca Celina Llerena, sócia-fundadora da Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu (Ebiobambu), em Visconde de Mauá, RJ, encabeça a lista dos entusiastas. "Visitei a Colômbia há alguns anos e voltei encantada com as possibilidades que o material oferece", conta a arquiteta, autora do projeto desta página, no Rio de Janeiro.

O bambu-mossô foi também a opção do arquiteto Walter Ono, de São Paulo, para o viveiro de orquídeas que você vê ao lado. Familiarizado com o material, com o qual trabalha desde 1972, Walter recomenda, além do tratamento contra pragas, a aplicação periódica de stain (os produtores também indicam manutenção com verniz naval). Embora no Brasil esse recurso apareça ainda timidamente em projetos de arquitetura, moradias de bambu são mais comuns do que se imagina. A organização chinesa International Network for Bamboo and Rattan (Inbar) estima que mais de 1 bilhão de pessoas habitam construções desse tipo em todo o mundo. "A maioria delas, no entanto, foi erguida em países em desenvolvimento, com técnicas tradicionais que estão se perdendo", comenta o professor Khosrow. 

Em contrapartida, países como a Colômbia e o Equador mantêm programas de habitações populares que privilegiam o bambu por causa do baixo custo e, com isso, estão formando mão de obra capacitada. Para os arquitetos especializados no assunto, o desafio é trafegar por duas frentes: resgatar conhecimentos e divulgar o bambu para combater o déficit habitacional e apagar a ideia de que ele seria um material menos nobre aprimorando técnicas para a aplicação em projetos de alto padrão. 

QUESTÃO DE FIBRA 
Parece perfeito: um tecido fabricado do bambu, matéria-prima abundante na natureza, de crescimento rápido e fácil manejo sustentável. Natural e ecológico, não fosse o que se esconde por baixo do pano: esses fios resultam de processos produtivos que não podem ser considerados "verdes", segundo Hans-Jürgen Kleine, químico com mais de 30 anos de experiência na indústria têxtil e de celulose e fundador da Associação Catarinense do Bambu. Para fabricar um tecido natural, as fibras vegetais precisam ter, no mínimo, 30 mm de comprimento - caso do algodão e do linho, mas não das espécies de bambu (que têm apenas entre 2 e 3 mm). "Para quebrá-las e transformá-las, a indústria utiliza o dissulfeto de carbono, altamente tóxico ao meio ambiente", explica Hans.

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