sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Claude-Nicolas Ledoux

Arquiteto francês do século XVIII, Ledoux, em vida, foi tido por louco ou artista maldito. Foi redescoberto na década de 1920 como genial precursor da arquitetura moderna, funcional e de finalidades sociais.

Claude-Nicolas Ledoux nasceu em Dormans-sur-Marne em 21 de março de 1736. Em 1771 foi nomeado inspetor-geral das salinas da França e, em 1773, arquiteto do rei. Neoclassicista de início, realizou nesse estilo o castelo de Madame du Barry em Louveciennes, a casa da bailarina Guimard em Paris e o teatro de Besançon. Ainda nesse estilo, mas com detalhes originais, projetou em 1783 a barreira alfandegária de Paris.
Entre 1775 e 1779 erigiu sua obra principal, hoje destruída: as oficinas e casas dos operários das salinas de Arc-et-Senans, em Franche-Comté. O projeto inclui todas as instituições necessárias a uma "cidade ideal" e é o primeiro exemplo de arquitetura social realizada em formas rigorosamente funcionais.
Preso como monarquista em 1793, só foi solto em 1797. Recusou, então, as tarefas que o Diretório lhe quis confiar e dedicou-se somente à criação de seus projetos, considerados irrealizáveis. Sua arquitetura se baseava em formas geométricas como o círculo e o quadrado e seus projetos adaptavam-se à finalidade de cada construção.
Na obra L'Architecture considerée sous le rapport de l'art, des moeurs et de la legislation (1804; A arquitetura considerada do ponto de vista da arte, dos costumes e da legislação), Ledoux descreve seus projetos de edificação em forma de esferas, cilindros e pirâmides. Os mais notáveis eram teatros e prisões, cujas fachadas eram coerentes com os objetivos do uso. Morreu em Paris, em 19 de novembro de 1806.
 
 
 
 
 
Foram diferentes os caminhos percorridos no ambiente de Paris por Claude-Nicolas Ledoux e Etienne-Louis Boullée. Vivendo e trabalhando muito próximos de áreas do poder e com grande capacidade de decisão, descobriram a sua própria indisponibilidade para responder à encomenda pública ou privada respeitando as limitações dos códigos clássicos. Tratando-se de duas personalidades muito distintas, acabaram ambos por se colocar intelectualmente próximos do racionalismo crítico dos neoclássicos da primeira geração, bem como dos seus émulos enciclopedistas, em nome dos princípios das vanguardas para a revolução das ideias. Posicionaram-se como arautos de uma atitude artística diferente sem evidenciar clara consciência revolucionária, mas assumindo o princípio da liberdade individual no processo criativo.
Ledoux manifestou desde cedo tendência para a realização de obra inovadora, cuja característica principal foi a de respeitar velhas práticas artísticas mas estabelecendo sobre elas critério interpretativo e crítico à luz da ligação com o quadro de valores emergentes. Assentou saberes sobre as correntes tradicionais do classicismo em versão depurada das cargas decorativas com que a geração precedente tinha envolvido os enunciados maneiristas. Foi a desconfiança sobre a legitimidade dos dogmas, anunciada pelos arautos do racionalismo, que acabou por romper com a crença na divina proporção.
Escritores e artistas, progressivamente libertos da tutela das Academias, foram lançando as bases do livre arbítrio e da afirmação individualista. Depressa o romantismo, nas suas múltiplas formas de afirmação dos valores da nova burguesia, se espalhou por todo o ocidente e colónias do comércio marítimo protagonizado pelos impérios ocidentais. O movimento romântico tomou o comando da nova cultura europeia, cabendo aos intelectuais franceses formular a teoria da nova sociedade liberal.
Ledoux desenhou a cidade utópica de Chaux segundo o método clássico da arquitectura que pressupõe a visão unitária e global das formas que integram o conjunto imaginado, como se se tratasse apenas de uma outra escala do edificado. Uma bela atitude que representa apenas um caminho impossível perante a realidade nascente da passagem à Idade Contemporânea. Se John Nash personificou na Inglaterra, sempre liberal mas inimiga de Napoleão, a alternativa pitoresca e romântica para uso das vaidades do rei, Ledoux e Boullée colocaram-se do lado moral da utopia para encerrar o ciclo clássico da história da arquitectura na Idade Moderna.

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