segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Valor da Empresa – Vale quanto entrega


Uma situação emblemática que vivemos neste momento no Brasil é o fato de algumas empresas consideradas exemplos nos setores que atuam, cobiçadas por grandes grupos internacionais e que optaram por abrir capital através da bolsa de valores terem sofrido desvalorização, quando consideramos o preço de suas ações listadas em bolsa.
Elas prepararam as suas ofertas iniciais de ações, foram vitoriosas na maioria dos casos, conquistaram a confiança de centenas de investidores, um casamento perfeito, dinheiro barato e de longo prazo em troca de ações, mas o que aconteceu nos anos seguintes não foi tão espetacular assim, vejam:
A) Analisando o universo das empresas que abriram capital nos últimos quatro anos, através de oferta inicial de ações, segundo reportagem da revista Exame, edição 923, de 30/07/08, (portanto antes do pico da crise financeira mundial), cerca de 70% dessas empresas valiam, naquela data, menos do que no momento da abertura de capital.
Por que isso aconteceu?
Você encontrará várias explicações, principalmente por parte dos bancos que coordenaram a oferta e gestores das empresas, mas tenho a minha opinião pessoal:
- Para se chegar ao preço que a ação será ofertada na sua estréia, de uma forma bem simplista, é analisada a condição atual da empresa (estrutura de ativos e passivos) acrescida das oportunidades de crescimento, como se fosse realizada uma precificação da empresa para venda naquele momento.
- Os projetos futuros irão gerar um fluxo de caixa, que incorporado aos resultados já recorrentes permitirá uma rentabilidade tal, que justifica o valor proposto por ação para a oferta inicial.
- Só compra a ação quem acreditou nas propostas.
- Ocorre que tudo não passa de projeções e expectativas, que passam a incorporar o prospecto da oferta inicial registrado na CVM, se transformando num compromisso formal a ser cumprido pela empresa.
- Caso esses compromissos e expectativas de geração de resultados não se confirmem, os resultados reais serão inferiores, reduzindo assim o valor projetado para empresa naquele momento, o que, automaticamente, provocará uma desvalorização no preço ação.
- A conta é matemática, se o resultado compromissado não se confirmar, a empresa valerá menos do que foi avaliada e o preço da ação cairá, mas quem perde efetivamente são aqueles tem ações dessas empresas na sua carteira de investimentos.
- Vale lembrar que uma parte considerável do dinheiro arrecadado nestas ofertas iniciais foi para o bolso dos acionistas majoritários e sócios controladores, que se transformaram em novos milionários e bilionários, como foi amplamente propagado pela imprensa.
- Dinheiro em espécie que esses controladores podem fazer o que quiserem e que nada sofre com a queda das ações, o que acabou acontecendo nos anos seguintes à abertura de capital. Isso sem falar das polpudas comissões que os agentes que prepararam as empresas para a abertura de capital receberam a título de comissão pelos serviços prestados.
- Se todas as empresas que abriram o capital através de oferta inicial de ações tivessem sofrido com desvalorização das ações poderíamos dizer que estávamos vivenciando uma tragédia financeira e que o mercado de ações no Brasil não funcionaria nestes novos tempos, mas não foi isso que aconteceu.
- Como explicar que empresas como a GP Investimentos, dentre outras na data da publicação da reportagem (30/07/08) acumulavam rentabilidade superior a 100%?
Considerando as empresas que perderam valor ficam alguns questionamentos:
Quantas delas entregaram o que foi prometido em termos de resultados?
- Será que seus projetos futuros foram superestimados?
- Será que os prazos de retorno desses projetos foram encurtados para antecipar geração de fluxo de caixa e com isso ter uma ação no lançamento com um preço melhor?
- De quem é a responsabilidade pelo cumprimento das metas que foram estabelecidas?
- As metas de resultados eram irreais?
- Onde estão os gestores que prometeram e não entregaram?
- Além do acionista minoritário, quem mais perdeu dinheiro com isso?
Guardadas as proporções a regra da entrega de resultados vale tanto para as grandes como para as pequenas empresas, a diferença é que uma grande empresa com capital aberto e ações listadas em bolsa é obrigada a tornar público os seus resultados e assim os acionistas e analistas conseguem verificar se ela está conquistando resultados e crescendo, já na pequena empresa a ausência de controles e a dificuldade na apuração de resultados dificultam as conclusões.
É lógico que essa análise crítica só faz sentido balizando pelo comportamento das bolsas até o mês de julho de 2008, onde ainda estávamos numa condição de normalidade, o que veio depois, nem Freud explica…

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